Descubra como as mulheres atuaram como líderes, guerreiras, cientistas e pensadoras ao longo dos séculos — e por que suas histórias foram silenciadas por tanto tempo.
Descubra como as mulheres atuaram como líderes, guerreiras, cientistas e pensadoras ao longo dos séculos — e por que suas histórias foram silenciadas por tanto tempo.
As narrativas históricas que aprendemos nos livros escolares muitas vezes exaltam feitos de grandes nomes masculinos: reis, guerreiros, exploradores, políticos. Enquanto isso, as mulheres que marcaram sua época frequentemente foram reduzidas a notas de rodapé —
Por que as mulheres foram invisibilizadas na História?
A História, enquanto narrativa construída, sempre refletiu os valores dominantes de seu tempo. E por muitos séculos, vivemos sob o domínio de estruturas patriarcais que associavam o espaço público ao homem e o espaço privado à mulher. Como resultado, a contribuição feminina era constantemente desvalorizada ou ignorada.
Além disso, os registros históricos foram, durante muito tempo, produzidos por homens: cronistas, monges, burocratas, políticos e intelectuais que pouco se preocupavam em registrar o cotidiano das mulheres ou reconhecer sua relevância. Mesmo as que ocupavam posições de destaque — como rainhas, guerreiras ou eruditas — tiveram suas histórias distorcidas, sexualizadas ou tratadas com desconfiança.
Esse apagamento foi intencional em muitos casos. Mulheres que questionavam normas, desafiavam hierarquias ou propunham mudanças sociais eram silenciadas ou difamadas. Por isso, resgatar suas histórias é um ato político de reparação histórica.
Mulheres que desafiaram seu tempo
Antiguidade: Sabedoria e poder feminino
Mesmo em sociedades patriarcais antigas, encontramos mulheres em posições de autoridade, liderança e produção intelectual:
Hatshepsut (Egito, século XV a.C.): Primeira mulher a assumir o título de faraó com plenos poderes, governando com estabilidade e prosperidade por mais de duas décadas. Representava-se como homem nas esculturas oficiais para legitimar sua autoridade.
Hipátia de Alexandria (Egito/Roma, século IV): Matemática, astrônoma e filósofa neoplatônica, Hipátia lecionava em uma das mais prestigiadas escolas da Antiguidade. Foi brutalmente assassinada por fanáticos cristãos, símbolo do confronto entre ciência e intolerância.
Cleópatra VII (Egito, século I a.C.): Rainha diplomática e poliglota, comandou estratégias políticas e militares em meio à crise do Império Egípcio. Foi aliada (e rival) de grandes figuras romanas como Júlio César e Marco Antônio.
Idade Média: Fé, política e resistência
Apesar da ideia comum de que as mulheres medievais viviam isoladas e submissas, muitas exerceram papéis políticos, espirituais e até militares:
Joana d’Arc (França, séc. XV): Camponesa analfabeta que afirmou ter visões divinas, liderou tropas francesas na Guerra dos Cem Anos. Foi capturada, julgada por heresia e queimada viva aos 19 anos.
Hildegarda de Bingen (Alemanha, séc. XII): Monja beneditina que escreveu obras sobre medicina, filosofia, teologia e música. Foi reconhecida como uma das maiores intelectuais do seu tempo.
Eleanor da Aquitânia (França/Inglaterra, séc. XII): Rainha consorte de dois reinos, influente diplomata e patrona das artes, participou de cruzadas e governou como regente por anos.
Idade Moderna: Escrita, revolução e liberdade
Entre os séculos XV e XVIII, mulheres atuaram em processos coloniais, movimentos revolucionários e na produção intelectual:
Nzinga de Angola (séc. XVII): Rainha do Ndongo e Matamba, resistiu por décadas à invasão portuguesa. Conhecida por sua inteligência política, chegou a negociar com o Vaticano e formar alianças estratégicas com outros povos africanos.
Olympe de Gouges (França, séc. XVIII): Autora da Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, ousou desafiar os ideais da Revolução Francesa ao denunciar o machismo revolucionário. Foi guilhotinada.
Maria Quitéria (Brasil, séc. XIX): Alistou-se disfarçada de homem para lutar na Guerra da Independência. Ganhou reconhecimento do próprio D. Pedro I por sua bravura, tornando-se símbolo da participação feminina nas lutas armadas.
Sor Juana Inés de la Cruz (México, séc. XVII): Poetisa, teóloga e intelectual autodidata. Enfrentou perseguição da Igreja por defender o direito das mulheres ao saber.
Idade Contemporânea: Vozes que ecoam
Com o avanço dos direitos civis e o surgimento dos feminismos, mais mulheres emergiram como líderes sociais, políticas e culturais:
Bertha Lutz (Brasil, séc. XX): Cientista e ativista feminista, liderou a luta pelo voto feminino no Brasil e participou da Assembleia Constituinte de 1933.
Carolina Maria de Jesus (Brasil, séc. XX): Escritora negra e moradora da favela do Canindé, tornou-se sucesso editorial com Quarto de Despejo, um relato cru da pobreza urbana.
Nise da Silveira (Brasil, séc. XX): Psiquiatra humanista que revolucionou o tratamento de pessoas com sofrimento mental, promovendo arte, afeto e dignidade no cuidado.
Marielle Franco (Brasil, séc. XXI): Socióloga, vereadora e ativista de direitos humanos, denunciava a violência policial e a desigualdade social. Foi assassinada em 2018, tornando-se símbolo de resistência
A importância de reescrever a História
Ao recuperar a trajetória dessas mulheres, não estamos apenas preenchendo lacunas: estamos questionando as bases da historiografia tradicional. A História deve ser inclusiva, múltipla e representativa da diversidade humana. Reconhecer a participação das mulheres é fundamental para compreender como se construíram as sociedades — e para inspirar as futuras gerações a romperem com silêncios históricos.
Conclusão