Elizabeth Báthory e o Mito Sanguinário que Persegue a História
A história está repleta de figuras que desafiam a compreensão, mas poucas se comparam à lenda sombria de Elizabeth Báthory (1560–1614), a aristocrata húngara eternizada como a "Condessa de Sangue". Considerada por muitos a maior serial killer de todos os tempos, ela transcende o crime para se tornar um mito gótico, uma figura que aterroriza e fascina em igual medida.
O Contexto de uma Nobreza Imune
Nascida em uma das famílias mais poderosas e ricas da Hungria, Báthory desfrutava de uma posição de privilégio e influência quase ilimitadas. Casada aos 15 anos com o Conde Ferenc Nádasdy, um renomado herói de guerra, ela residia no imponente Castelo de Čachtice (atual Eslováquia). Sua vida era cercada por luxo, poder e uma total ausência de escrutínio, o que, segundo relatos históricos, criou o terreno fértil para suas atrocidades.
Os Crimes e a Lend
O período de seus crimes é nebuloso, mas a maioria das fontes aponta para um pico de atividade entre 1585 e 1610. Inicialmente, suas vítimas teriam sido servas e camponesas jovens, trazidas para o castelo sob a promessa de trabalho bem remunerado. Com o tempo, e com sua ousadia crescendo, ela teria se voltado para filhas de pequena nobreza que estavam em seu castelo para aprender etiqueta.
Os métodos descritos nos depoimentos dos julgamentos e nas lendas populares são horríveis: tortura brutal, mutilações, espancamentos e, a parte mais famosa e controversa da história, a crença de que ela se banhava no sangue de suas vítimas virgens para manter a juventude e a beleza. Embora a veracidade da lenda do banho de sangue seja debatida por historiadores – que a veem como um exagero posterior para demonizá-la –, os registros da tortura e assassinato são amplamente aceitos.
A Queda e o Processo Judicial
O número exato de vítimas é incerto, variando de poucas dezenas a mais de 650, número que teria sido registrado em um de seus diários, embora esse diário nunca tenha sido provado. Foi a escalada dos crimes para envolver a pequena nobreza que finalmente quebrou sua imunidade.
Em 1610, o Rei Matias II da Hungria ordenou uma investigação liderada pelo Palatino György Thurzó. O inquérito reuniu centenas de testemunhos de sobreviventes, parentes de vítimas e funcionários do castelo. Embora a própria Condessa Báthory, por sua posição social, nunca tenha sido formalmente julgada ou executada, seus cúmplices (quatro servos) foram condenados e executados em 1611.
O Final Solitário e o Legado
Elizabeth Báthory foi confinada em um quarto sem janelas no Castelo de Čachtice, uma prisão perpétua decretada por seu primo Thurzó para evitar um escândalo público completo. Ela morreu quatro anos depois, em 1614.
Sua história tornou-se uma poderosa confluência de fatos e folclore. Enquanto historiadores questionam se ela foi também vítima de uma conspiração política para confiscar suas vastas terras e riquezas, o legado de seus crimes a cimentou como um arquétipo de maldade pura. Elizabeth Báthory permanece, indiscutivelmente, a "Condessa de Sangue", a figura histórica que mais se aproxima do vampiro gótico e a contadora de corpos mais prolífica nos anais da história criminal.
